Inicio

O piloto de guerra dos EUA que enfrentou um óvni em uma batalha aérea

Por History Channel Brasil em 14 de Janeiro de 2022 às 14:04 HS
O piloto de guerra dos EUA que enfrentou um óvni em uma batalha aérea-0

O incidente descrito aqui, relatado em arquivos revelados do governo dos Estados Unidos, inspirou o Episódio 1 da série do HISTORY “Projeto Livro Azul”.

Nas palavras do Capitão Edward J. Ruppelt, o homem que investigou um objeto voador não identificado para a Força Aérea dos EUA no início dos anos 1950, a Batalha de Gorman permanece sendo um dos avistamentos mais misteriosos da história dos óvnis. O ocorrido ainda não teve uma explicação satisfatória e envolve um encontro de 27 minutos no ar entre um piloto veterano da Segunda Guerra Mundial, chamado George F. Gorman, e uma misteriosa luz branca em elevadas atitudes acima de Fargo, na Dakota do Norte. “Nunca vi algo assim”, disse Gorman a um jornal local após o acontecimento de 1° de outubro de 1948. “Se outra pessoa tivesse relatado essa experiência, eu a teria chamado de louca”, afirmou.

O Capitão Ruppelt participava do Projeto Livro Azul, que continuava o trabalho do Projeto Sign (Sinal) e o Projeto Grudge (Rancor), uma série de estudos secretos conduzidos pela Força Aérea dos EUA a partir de 1947. Sua missão: determinar se os óvnis seriam uma ameaça à segurança nacional e analisar cientificamente dados relacionados a avistamentos.

O que faz a Batalha Gorman ser única nas páginas agora reveladas do Projeto Livro Azul não é somente a duração do encontro, mas o fato de ter sido visto no céu e na terra por diversas testemunhas.

Perseguindo – e sendo perseguido por – uma luz

Na época do incidente, Gorman, um ex-piloto, de 25 anos de idade, estava servindo como segundo tenente da Guarda Aérea Nacional. Ele estava participando de um voo  de travessia pelo país, em um P-51 Mustang, naquele 1° de outubro de 1948, ao lado de outros pilotos da instituição.

Enquanto os outros pilotos pousaram no aeroporto Hector, em Fargo, naquela noite, Gorman se manteve no ar para aproveitar o voo noturno sob uma ótima condição meteorológica – sem nuvens. Após uma volta sob um estádio de futebol iluminado, ele estava se preparando para pousar, aproximadamente às 21h. Avisado pela torre de controle que o único avião nos arredores era um Piper Cub (que ele conseguia enxergar a cerca de 150 metros abaixo), ele avistou o que acreditou ser as luzes de outra aeronave, embora a torre não a tivesse localizado no radar.

Decidido a olhar mais de perto para o objeto não identificado, Gorman subiu cerca de 900 metros. “O objeto tinha aproximadamente de 15 a 20 centímetros de diâmetro, era branco e redondo”, disse ele em seu relatório. “Ele piscava o tempo todo. Mas, quando me aproximei, a luz de repente ficou estável e passou para o lado esquerdo do objeto. Eu achei que ele estava passando por uma torre”.

Decidido a seguir o óvni, Gorman não conseguiu acompanhá-lo, reportando que foi ultrapassado quando estavam em uma altitude de 2 mil metros. Foi quando o objeto fez uma curva muito fechada e foi em direção ao P-51. Quase em ponto de colisão, Gorman fez um mergulho no ar e disse que a luz passou por cima de sua cabine e novamente fez uma curva e retornou em sua direção. Quando a colisão parecia iminente mais uma vez, Gorman disse que o objeto fez uma subida brusca – tão brusca que quando ele tentou interceptá-lo, já estava em 4 mil metros de altitude.

O objeto não foi visto novamente, mas, de acordo com Gorman, toda essa batalha aérea durou 27 minutos, até que ele conseguiu pousar.

“Um propósito por trás das manobras”

Chocado após o encontro, Gorman disse que não notou som, nenhum rastro ou cheiro vindo do objeto. E quando alcançou uma velocidade acima de 600 km/h, não foi mais possível segui-lo.

“Estou convencido que ele tinha um propósito por trás de suas manobras,” disse Gorman a seu comandante. “Também acredito que o objeto era coordenado pelas leis da inércia, porque sua aceleração era rápida, mas não imediata; e apesar de realizar curvas fechadas em alta velocidade, elas ainda seguiam uma trajetória natural”.

Gorman relatou que ele desmaiou temporariamente por causa da excessiva velocidade, enquanto tentava fazer uma curva junto ao objeto”. “Eu estou em uma ótima forma física e não acredito que algum piloto consiga realizar tal curva, em tal velocidade, permanecendo consciente”, ele escreveu. “O objeto não foi somente capaz de realizar melhores curvas e voar em mais alta velocidade que a minha aeronave, mas também a realizar subidas íngremes e muito mais rápidas”.

Outras testemunhas

Gorman não foi o único a avistar o misterioso objeto naquela noite. Ele também foi observado pelos controladores de tráfego Lloyd D. Jensen e H.E. Johnson, que estavam na torre de controle do aeroporto Hector. De acordo com Johnson, que relatou ter visto o Piper Cub e o óvni na mesma hora, o objeto estava “voando em alta velocidade” e era “rápido o suficiente para aumentar o espaço entre ele e a aeronave de Gorman”. Johnson descreveu o objeto como “apenas uma luz redonda, perfeita, com as bordas bem lisas, sem nenhum raio saindo do seu centro”.

A. E. Cannon, o piloto do Piper Cub, e seu passageiro também viram o objeto – tanto no céu como no retorno ao aeroporto, onde eles imediatamente se juntaram aos controladores de tráfego na torre. Cannon descreveu a luz como movendo-se muito mais rapidamente que o P-51. Dois funcionários do Conselho de Aeronáutica Civil, que estavam em terra, também relataram terem visto o objeto.

O piloto de guerra dos EUA que enfrentou um óvni em uma batalha aérea - 1
George Gorman (à esquerda) afirmou que o óvni fazia manobras inacreditáveis

Explorando as opções

Poderia ter sido simplesmente outra aeronave? Levando em conta a tecnologia da época, o engenheiro aeronáutico Travis S. Taylor, autor de “Introduction to Rocket Science and Engineering”, acredita que outra aeronave estaria muito visível para Gorman.

Segundo ele, naquele mesmo ano, Chuck Yeager fez seu famoso voo no Bell X-1 em velocidade recorde, rompendo a barreira do som. “Uma aeronave como aquela seria bastante óbvia para um piloto em um P-51. Gorman saberia para que ele estaria olhando – o X-1 era muito similar a um avião”, diz Taylor. “Se ele estava perseguindo algo que não era parecido com um avião padrão e ele não conseguia acompanhar a sua velocidade, então ou esse objeto estava muito longe, e ele não percebeu essa distância, ou estava se movendo muito mais rápido que um P-51”.

Investigadores da Força Aérea, do Projeto Sign (mais tarde conhecido como Projeto Grudge e depois Projeto Livro Azul) chegaram rapidamente a Fargo, onde mediram a radiação do avião, que estava bastante alta. Mais tarde, essa elevação foi explicada como sendo um efeito colateral do voo em alta altitude.

Será que Gorman estava com algum distúrbio mental por conta de suas experiências de guerra? Investigadores do governo o atestaram como sendo uma testemunha confiável, afirmando que “ele não dá a impressão de estar delirando. Ele lê pouco, e apenas literatura séria, e passa 90% de seu tempo caçando e pescando; bebe menos que moderadamente; fuma normalmente e não usa drogas. Ele parece ser um indivíduo sério e sincero, que ficou consideravelmente intrigado com essa experiência e não tentou de nenhuma forma aumentar sua história”.

E se fosse um teste da Guerra Fria?

Uma teoria da conspiração especulava que o ocorrido com Gorman possa ter sido um teste secreto aéreo. Com a Segunda Guerra Mundial tendo terminado recentemente, a tensão era alta em 1948, tanto em círculos militares quanto civis. E com a Guerra Civil cada vez mais entranhada na mente dos americanos, o governo dos EUA tentou aumentar seu poder com uma iniciativa clandestina chamada “Operation Paperclip”, recrutando antigos cientistas nazistas, engenheiros e técnicos (incluindo Wernher von Braun e sua equipe do foguete V-2) e os levando aos Estados Unidos, para aumentar as chances do país na Guerra Fria e na corrida espacial.

Mais adiante, os soviéticos começaram a testar o foguete R-1 (uma versão soviética do alemão V-2), no mesmo ano do encontro de Gorman, levantando questões sobre a origem do objeto ser alguma arma ou aeronave soviética. “O R-1 não tinha alcance para ir da União Soviética até Fargo”, diz Taylor. “Era um foguete bem mediano. Todos os foguetes na época eram projéteis. Eles basicamente utilizavam a aerodinâmica para se mover. Eles podiam realizar manobras lentas, mas se realizassem alguma com maior velocidade, começavam a se despedaçar”.

A teoria do balão meteorológico

Após o Serviço Meteorológico de Fargo revelar que havia lançado um balão meteorológico iluminado 10 minutos antes de Gorman ter visto o objeto pela primeira vez, os investigadores chegaram à conclusão de que esta era a explicação mais verossímil para o avistamento.

Quanto às manobras incríveis testemunhadas, o relatório diz que elas eram na verdade um espelho das próprias manobras de Gorman, enquanto ele tentava perseguir o objeto iluminado. De fato, o que os investigadores concluíram foi que a alta velocidade da aeronave de Gorman deu a impressão de que o balão estava se movendo em direção oposta. Além disso, os investigadores notaram que Júpiter estava com uma aparência muito brilhante naquela noite, o que levantava a hipótese de Gorman estar “perseguindo” Júpiter enquanto o balão meteorológico estava em órbita.

“Nós estávamos realizando o Projeto Mogul naquela época, que tratava de enviar balões a elevadas altitudes, com microfones acoplados, para tentar ouvir se os soviéticos estavam realizando testes nucleares”, disse Taylor, que aponta que o famoso caso Roswell, no Novo México, foi explicado como sendo um balão do Projeto Mogul.

Não se sabe se Gorman ficou satisfeito com essa explicação oficial. Mantendo-se em silêncio, ele retornou à Força Aérea por tempo integral, e se aposentou em 1969. Ele nunca mais falou publicamente sobre o encontro, apesar de contar a amigos que nunca esteve convencido de ter tido uma batalha com um balão iluminado por 27 minutos, segundo o jornal The Bismarck Tribune. Ele morreu em 1982.

Taylor tem sua própria teoria: “Possivelmente, alguém estava brincando com foguetes”. Mas, ele aponta que não havia nenhum local de testes e nem mesmo cientistas naquela área. A Operação Paperclip era toda realizada em White Sands, no Novo México, e o guru dos foguetes, Robert H. Goddard, havia morrido em 1945. “Não faz sentido que eles estivessem perseguindo qualquer coisa feita pelo homem naquele local”, diz Taylor.


Fonte: HIstory.com

Imagens: U.S. Air Force, via Wikimedia Commons e Image Bank/Alamy, via History.com