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Seis saques vergonhosos de Roma

Por History Channel Brasil em 07 de Janeiro de 2019 às 09:44 HS
Seis saques vergonhosos de Roma-0

Em 24 de agosto de 410 d.C., tribos bárbaras sob o comando do rei visigodo Alarico entraram em Roma para três dias de assassinato e pilhagem. O saque teve papel importante na eventual queda do Império Romano, mas não foi a única vez que a metrópole foi conquistada, saqueada ou queimada. Explore as histórias por trás de seis dos ataques mais violentos à Cidade Eterna.

 

[ASSISTA A REBELIÃO DOS BÁRBAROS. ESTREIA SEGUNDA (12/09), ÀS 22H40]

 

Os gauleses

A história do primeiro saque de Roma é envolta em mito e lenda, mas provavelmente aconteceu quando a jovem cidade se envolveu em um conflito com um grupo de gauleses celtas liderados pelo chefe militar Breno. Em 18 de julho de 387 a.C., os dois lados se enfrentaram em uma batalha às margens do Rio Ália. Os romanos ainda não haviam aperfeiçoado o estilo de luta que tornaria suas legiões famosas, e muitos homens se dispersaram no primeiro ataque do exército de gauleses cabeludos e com os peitos nus.  O resto sofreu uma carnificina, deixando o caminho de Roma livre para Breno. Seus homens entraram na cidade alguns dias depois e iniciaram uma orgia de estupros e pilhagem. Prédios foram incendiados ou saqueados de seus objetos de valor. A maioria do senado romano tombou vítima das espadas no Fórum.

 

Enquanto os gauleses atacavam o resto da cidade, os romanos sobreviventes se fortificaram no topo do Monte Capitolino. Eles repeliram vários ataques gauleses, mas depois de meses de cerco, eles concordaram em pagar mil libras de ouro para que Breno e seu exército deixassem a cidade. Reza a lenda que Breno usou balanças manipuladas para pesar o resgate. Quando os romanos reclamaram, ele jogou sua espada nas balanças e gritou “Vae Victis!” (“Ai dos Vencidos!”). Roma se reconstruiu depois que os gauleses partiram, mas a derrota no Rio Ália deixou feridas profundas. Por todo o resto da história romana, 18 de julho foi considerado um dia maldito.

 

Os visigodos

Roma se recuperou do desastre gaulês e floresceu por quase 800 anos, mas seu segundo saque, em 410 d.C., marcou o início de uma longa e dolorosa queda. Na época, o Império Romano estava dividido e em declínio. Tribos saqueadoras germânicas haviam começado a fazer incursões pelo Reno e Danúbio, e uma delas, um grupo de visigodos, liderados por um rei chamado Alarico, já havia cercado Roma em duas ocasiões distintas.  Quando os bárbaros voltaram para um terceiro cerco, um grupo de escravos rebeldes abriu a Porta Salária e deixou que eles entrassem na cidade. Alarico e suas hordas começaram a incendiar prédios, matar aristocratas e roubar tudo que fosse possível. Três dias depois, tendo depenado a cidade de toda sua riqueza, eles partiram de Roma e desapareceram pela Via Ápia.  

 

O saque visigodo foi relativamente controlado. A maioria dos monumentos e prédios mais famosos foram poupados, e como os godos eram cristãos, eles deixaram que as pessoas se refugiassem nas basílicas de São Pedro e São Paulo. Mesmo assim, a notícia de que a Cidade Eterna havia sucumbido causou abalos por todo o Mediterrâneo. “Minha voz está presa na garganta, e, enquanto eu dito, soluços me engasgam”, escreveu o cristão São Jerônimo. “Tornou-se cativa a cidade que antes havia tornado todas as outras suas cativas”.

 

Os vândalos

O uso da palavra “vandalismo” para descrever a destruição de patrimônio público ou privado deve sua origem aos vândalos, um povo tribal germânico responsável por um famoso saque de Roma. A invasão foi motivada pelo assassinato do Imperador Romano Valentiniano III, que havia prometido sua filha Eudóxia para o filho do rei vândalo Geiserico como parte de um acordo de paz. Alegando que o acordo havia se tornado inválido após a morte do Imperador, Geiserico invadiu a Itália e marchou sobre Roma em 455. Os romanos não conseguiram impedir o avanço do exército dele e enviaram o papa Leão para negociar. O pontífice persuadiu Geiserico a não queimar a cidade ou matar seus habitantes, e em troca, os vândalos poderiam passar pelos portões de Roma sem luta.

 

Geiserico e seu bando passaram as duas semanas seguintes juntando todo o butim que conseguiam carregar. Eles saquearam as casas dos patrícios da cidade levando ouro, prata e móveis. Eles até mesmo saquearam o palácio imperial e o Templo de Júpiter Ótimo Máximo. Fiéis a sua palavra – se não seu nome – eles evitaram destruir prédios ou matar pessoas, mas tomaram algumas prisioneiras. Entre elas estava a filha de Valentiniano, a princesa Eudóxia, que mais tarde casou com o filho de Geiserico, conforme o acordo inicial.

 

Os ostrogodos

Depois da deposição do último Imperador do Ocidente no ano 476 d.C., Roma foi governada por uma série de reis germânicos e ostrogodos. O Imperador do Oriente, Justiniano, conseguiu recuperar a região durante o século VI, mas a resistência ostrogoda logo retornou, cortesia de Totila, um líder magnético que comandava os godos e cercou Roma. De acordo com o historiador Procópio, Totila e seus homens conseguiram acessar a cidade em 546 ao escalar suas muralhas escondidos pela escuridão da noite e abrir a Porta Asinária. A pequena guarnição de Roma imediatamente fugiu aterrorizada, deixando a cidade indefesa e pronta para ser saqueada. Os Ostrogodos passaram várias semanas lucrativas saqueando a cidade, mas apesar de ter prometido transformar Roma em um pasto de ovelhas, Totila evitou destruir a cidade quando partiu de lá, no início de 547. Mesmo com a maioria dos seus edifícios de pé, a metrópole, que um dia havia sido grande, agora se resumia a uma ruína estéril. Tendo abrigado mais de um milhão de habitantes durante os dias de glória do Império, quando os godos finalmente foram embora, sua população era de apenas algumas centenas de moradores.

 

Os normandos

Apenas alguns anos depois de seu compatriota Guilherme, o Conquistador, ter iniciado a invasão da Inglaterra em 1066, o chefe militar normando Roberto Guiscardo comandou um terrível saque de Roma. Guiscardo—nome que significa “astuto”— marchou sobre a cidade em 1084 depois de receber um pedido de auxílio de seu aliado, o papa Gregório VII, que estava sofrendo um cerco do Sacro Imperador Romano Henrique IV. Guiscardo capturou a cidade facilmente e resgatou o Papa, mas seus soldados foram apontados como inimigos pelos cidadãos romanos, muitos deles apoiadores de Henrique. Quando o povo se rebelou contra ele, Guiscardo esmagou a revolta a permitiu que seus homens se refestelassem com estupros e pilhagem. O fogo se espalhou pela cidade e muitos de seus habitantes foram mortos ou vendidos como escravos. Fontes divergem a respeito do grau de destruição da invasão de três dias, mas alguns historiadores acusam Guiscardo e seus normandos de destruírem muitos monumentos romanos antigos de valor inestimável.

 

O Sacro Império Romano

“Eles choraram muito; todos nós ficamos ricos”. Assim foi como um dos participantes resumiu os eventos de maio de 1527, quando um exército amotinado sob o comando do Sacro Imperador Romano Carlos V arrasou a cidade de Roma. As tropas imperiais haviam acabado de voltar de uma campanha contra a Liga de Cognac – de quem o Papa Clemente VII era aliado – mas não recebiam salário há meses. Para mantê-los marchando, seu comandante, o Duque de Bourbon, prometeu a eles a chance de saquear Roma. Os soldados miseráveis chegaram em 6 de maio e desferiram seu ataque. O Duque foi morto durante a batalha, mas seus homens derrubaram as muralhas de proteção e invadiram a cidade. A Guarda Suíça do Vaticano foi aniquilada perto da Basílica de São Pedro. O Papa Clemente, enquanto isso, foi forçado a fugir por meio de um túnel secreto e se refugiar no inexpugnável Castelo de Santo Ângelo.

 

Dentro de Roma, o exército sem líder se transformou em uma horda sanguinária. Prédios foram pilhados e queimados; homens e crianças foram torturados e mortos; e mulheres – até mesmo freiras católicas – foram estupradas ou leiloadas em mercados públicos. Quando o exército finalmente deixou a cidade, Roma estava depenada e metade de seus 55 mil habitantes estavam mortos ou sem teto. O prejuízo cultural também foi severo. Muitos artistas foram mortos e várias obras de arte de valor inestimável foram destruídas ou desapareceram. Alguns estudiosos até mesmo consideram o saque de 1527 como o fim oficial do Renascimento Italiano.

 


Imagem: Karl Briullov [Domínio público], via Wikimedia Commons